quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amamentação pode melhorar a inteligência de meninos, diz estudo

Crianças alimentadas por leite materno por mais de seis meses tiveram resultados melhores em testes.

Crianças de dez anos que haviam sido amamentadas por ao menos seis meses tiveram resultados melhores em testes-padrão de leitura, matemática e grafia, em comparação com crianças amamentadas por períodos mais curtos.
A conclusão é de um estudo australiano feito com mais de mil crianças e relatado nesta segunda-feira pelo site especializado "MedPage Today".
Os efeitos benéficos da amamentação apareceram de forma mais relevante em meninos, possivelmente porque o leite compensa hormônios femininos que ajudam a proteger o cérebro de meninas.
Outra possibilidade é que a amamentação tem um efeito positivo nas relações entre mãe e filho, facilitando a interação e, de forma indireta, o desenvolvimento cognitivo, segundo o MedPage Today. Como os meninos dependiam mais da atenção materna do que as meninas, os efeitos positivos dessa interação se fariam mais presente neles.

'Provas crescentes'

O estudo, publicado na revista Pediatrics, foi coordenado por Wendy Oddy, do Instituto de Pesquisa de Saúde Infantil da Universidade do Oeste da Austrália.

'Nosso estudo adiciona provas crescentes de que a amamentação por ao menos seis meses tem efeitos benéficos para o melhor desenvolvimento da criança', escreveram Oddy e seus colegas.
A relação entre amamentação e desenvolvimento cognitivo é atribuída aos nutrientes presentes no leite materno - principalmente ácidos graxos poli-insaturados -, que ajudam no crescimento de membranas celulares do cérebro e de neurônios.
O estudo levou em consideração os outros fatores que também influenciam o desenvolvimento cognitivo infantil e disse ter tentado controlá-los entre as crianças estudadas. Com isso, foi possível observar também que índices menores de educação materna e renda prejudicavam o desempenho das crianças.
Em contrapartida, as que liam mais durante a idade de três a cinco anos tiveram melhores resultados nos testes de leitura e escrita.

Fonte: http://www.g1.com

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Medicalização da Educação e da Sociedade

Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade
A sociedade brasileira vive um processo crescente de medicalização de todas as esferas da vida.

Entende-se por medicalização o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como “doenças”, “transtornos”, “distúrbios” que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas. Questões coletivas são tomadas como individuais; problemas sociais e políticos são tornados biológicos. Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família são responsabilizadas pelos problemas, enquanto governos, autoridades e profissionais são eximidos de suas responsabilidades.

Uma vez classificadas como “doentes”, as pessoas tornam-se “pacientes” e consequentemente “consumidoras” de tratamentos, terapias e medicamentos, que transformam o seu próprio corpo no alvo dos problemas que, na lógica medicalizante, deverão ser sanados individualmente. Muitas vezes, famílias, profissionais, autoridades, governantes e formuladores de políticas eximem-se de sua responsabilidade quanto às questões sociais: as pessoas é que têm “problemas”, são “disfuncionais”, “não se adaptam”, são “doentes” e são, até mesmo, judicializadas.

A aprendizagem e os modos de ser e agir – campos de grande complexidade e diversidade – têm sido alvos preferenciais da medicalização. Cabe destacar que, historicamente, é a partir de insatisfações e questionamentos que se constituem possibilidades de mudança nas formas de ordenação social e de superação de preconceitos e desigualdades.

O estigma da “doença” faz uma segunda exclusão dos já excluídos – social, afetiva, educacionalmente – protegida por discursos de inclusão.

A medicalização tem assim cumprido o papel de controlar e submeter pessoas, abafando questionamentos e desconfortos; cumpre, inclusive, o papel ainda mais perverso de ocultar violências físicas e psicológicas, transformando essas pessoas em “portadores de distúrbios de comportamento e de aprendizagem”.

No Brasil, a crítica e o enfrentamento dos processos de medicalização ainda são muito incipientes.

É neste contexto que se constitui o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, que tem como objetivos: articular entidades, grupos e pessoas para o enfrentamento e superação do fenômeno da medicalização, bem como mobilizar a sociedade para a crítica à medicalização da aprendizagem e do comportamento.

O caráter do Fórum é político e de atuação permanente, constituindo-se a partir da qualidade da articulação de seus participantes e suas decisões serão tomadas, preferencialmente, por consenso. É composto por entidades, movimentos e pessoas que tenham interesse no tema e afinidade com os objetivos do Fórum.

O Fórum se fundamenta nos seguintes princípios:

- Contra os processos de medicalização da vida.
- Defesa das pessoas que vivenciam processos de medicalização.
- Defesa dos Direitos Humanos.
- Defesa do Estatuto da Criança e Adolescente.
- Direito à Educação pública, gratuita, democrática, laica, de qualidade e socialmente referenciada para todas e todos.
- Direito à Saúde e defesa do Sistema Único de Saúde – SUS e seus princípios.
- Respeito à diversidade e à singularidade, em especial, nos processos de aprendizagem.
- Valorização da compreensão do fenômeno medicalização em abordagem interdisciplinar.
- Valorização da participação popular.

O Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade se propõe os seguintes desafios:

I. Ampliar a democratização do debate
o Estabelecer mecanismos de interlocução com a sociedade civil
i. Popularizar o debate, sem perder o rigor científico.
ii. Pluralizar os meios de divulgação, incluindo cordéis, sites, artes em geral.
iii. Construir estratégias para ocupar espaços na mídia.

o Estabelecer mecanismos de interlocução com a academia
i. Ampliar a discussão entre profissionais das diversas áreas;
ii. Construir estratégias para ocupar espaços nos cursos de formação inicial e continuada dos profissionais das diversas áreas.
iii. Apoiar propostas curriculares de humanização das práticas de educação e de saúde.

o Socializar o significado da medicalização e suas consequências
i. Reconhecer as necessidades das famílias que vivenciam processos de medicalização.
ii. Esclarecer riscos da drogadição – drogas lícitas e ilícitas - como consequência da medicalização.
o Ampliar a compreensão sobre a diversidade e historicidade dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano.
II. Construir estratégias que subvertam a lógica medicalizante
o Ampliar a produção teórica no campo da crítica à medicalização.
o Intervir na formulação de políticas públicas, subsidiando o embasamento em novas concepções de ser humano e de sociedade.
o Apoiar iniciativas de acolhimento e o fortalecimento das famílias, desmitificando pretensos benefícios da medicalização.
o Apoiar ações intersetoriais que enfrentem os processos de medicalização da vida.

São Paulo, 13 de novembro de 2010