quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Distúrbio auditivo é confundido com deficit de atenção

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO
Muitos dos sintomas são iguais: dificuldade de se concentrar, desorganização, esquecimento, mau desempenho na escola e problemas de relacionamento.
Marcelo Camargo/Folhapress
Henrique, 10, e Eduarda Lima, 12, de Brasília, têm o distúrbio de 
processamento auditivo
Os irmãos Henrique, 10, e Eduarda Lima, 12, de Brasília, têm o distúrbio de processamento auditivo


Por isso a dificuldade de saber se uma criança com dificuldade de aprendizagem tem transtorno de deficit de atenção e hiperatividade ou DPAC (distúrbio do processamento auditivo central).
O problema é uma falha na forma como o sistema nervoso central processa o som. Não há deficiência no aparelho auditivo, mas uma dificuldade para compreender o significado da mensagem.
Nomeado oficialmente nos EUA em 1996, o distúrbio ainda está se tornando mais conhecido por pais e professores. Segundo estudos, pode atingir até metade das crianças com dificuldades de aprendizagem.
Ainda se sabe pouco sobre causas -infecções no ouvido na infância estão entre elas, mas suspeita-se também de alterações neurobiológicas genéticas e meningite.
Crianças inteligentes, interessadas e que, mesmo assim, vão mal em várias matérias são candidatas a ter DPAC. É o caso de Eduarda, 12, de Brasília.
A mãe, Luísa Casado Lima, afirma que a filha sempre foi esforçada, mas não conseguia se concentrar e começou a cometer erros de grafia.
Luísa, que é dentista, levou a filha a uma fonoaudióloga, a um neurologista e a um ortopedista. No exame de audiometria, feito em cabine acústica, o processamento auditivo estava alterado.
Eduarda ouvia bem, mas não entendia o que era dito.

Editoria de Arte/Folhapress/Editoria de Arte/Folhapress

http://f.i.uol.com.br/folha/equilibrio/images/11003163.gif
MODA
A mãe acha que o DPAC é moda. "Todo aluno tem alguma coisa, qualquer dificuldade é atribuída a alterações."
O filho dela, Henrique, 10, também foi diagnosticado com o problema.
O neuropediatra Paulo Junqueira também percebe um crescimento no número de diagnósticos.
Para a fonoaudióloga Vera Lúcia Garcia, diretora secretária da Associação Brasileira de Fonoaudiologia, os diagnósticos vão ficando mais específicos com a evolução da neurociência.
"Hoje a disseminação do distúrbio é maior e há mais recursos para avaliá-lo."
Nicholas Araujo, 9, do Rio, também foi diagnosticado com o DPAC. A mãe, Rachel, demorou para descobrir quais eram as dificuldades.
O que chamava a atenção da mãe é que qualquer frase era interpretada ao pé da letra. "O Nicholas não entendia brincadeiras, piadas, algo com duplo sentido", diz.
O tratamento é feito com fonoterapia, para ajudar a criança a separar e entender o que ouve.
Além de terem sintomas similares, o deficit de atenção e o distúrbio auditivo podem coexistir -o que é muito comum, segundo o neuropediatra Paulo Alves Junqueira. "É preciso tomar muito cuidado ao colocar um rótulo porque as características são similares. Há uma linha muito tênue entre os dois."

Jornal Folha de São Paulo - 03/01/2011

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