domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cordão Umbilical

 Li este texto e achei fantástico, mesmo não sendo mãe, mas trabalhando com crianças pequenas e vendo, a cada dia, situações de separação desta relação singular, imagino e por vezes sinto, o quão doloroso (e necessário) há de ser!

Vale a pena ler!!!!



Texto: Gabriela Mazza
http://adoromelancia.blogspot.com/


Discordo dessa visão histórica de que as mulheres precisam lutar pela igualdade. Pelo simples motivo de que homens e mulheres jamais serão iguais, em todos aspectos. Cada gênero tem suas particularidades, exatamente como o azeite e o vinagre. Juntos dão o tempero exato para a salada. Mas uma coisa faz de nós mulheres verdadeiras privilegiadas: a maternidade. A barriga crescendo, o corpo mudando, um ser dentro da gente, se formando. Por mais cotidiano que seja se falar em gravidez, quando acontece com a gente não há como não se emocionar. É um milagre, a ciência que me perdoe.
O cordão umbilical é um laço que a vida jamais consegue cortar. As mães que perderam seus filhos sabem o quanto. As que diariamente acordam, alimentam, vestem e mimam seus rebentos também. Nesse kit singular de que fomos abençoadas, ainda tem a amamentação e a intuição, aquele sentimento que não sabemos explicar e que o mundo batizou de “instinto materno”. Escrevo tudo isso para dizer que meu coração anda apertado nos últimos dias. É uma bobagem, coisa de mãe babona, sei lá. Não é por nada ruim, a Sofia está ótima, há meses sem nenhuma intercorrência, feliz e saudável. Mas na semana que vem finalmente vai para o colégio. Depois de quatro anos debaixo das nossas asas, vai dar seu primeiro passo no mundo coletivo. Vai pisar no universo regido por diferentes modos, gostos e filosofias de vida. Provar refrigerante, comer chiclete, ouvir gente que fala palavrão. Mas sei também que vai descobrir o convívio dos amigos, aprender o mundo das letras e construir o seu mundinho de sonhos. Nesses quatro anos de vida, procuramos mostrar a ela o quanto essa vida vale a pena.
Daqui para frente sei que será um piscar de olhos até a faculdade. Meu peito se enche de angústia e felicidade, se é possível que estes sentimentos antagônicos possam ser companheiros. Me arrepia ter a certeza de que a partir da próxima segunda-feira o tempo vai voar. Minha “minhoca” vai vestir o uniforme do “pré” e pisar o mundo cheia de autonomia. Sei que vai ser muito feliz. Que essa luz que ilumina nosso cotidiano vai irradiar por outros pagos também.
Estou feliz e triste. Mas me vem na memória o texto de um quadro que tinha no corredor da charqueada que nasci e cresci. Era o famoso poema do Kalil Gibran, que durante minha infância li e reli milhares de vezes, sem compreender. Hoje penso na profundidade daquelas frases e me apego a elas para amenizar meus medos. Desejo com todo meu amor que o mundo trate minha amada filha com carinho e que ela siga tendo a certeza de que essa vida é maravilhosa.
P.S.: E quando menos a gente imaginar, ela vai trazer aquele cabeludo, todo tatuado, para apresentar à família. Socorro!!!!
“Seus filhos não são seus filhos.
São os filhos e filhas da vida, desejando a si mesma.
Eles vêm através de vocês, mas não de vocês. E embora estejam com vocês, não lhes pertencem.
Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos, pois eles têm seus próprios pensamentos.
Vocês podem abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas vivem na casa do amanhã, que vocês não podem visitar, nem mesmo em seus sonhos.
Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem torná-los iguais a vocês. Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.
Vocês são o arco de onde seus filhos são lançados como flechas vivas. O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele curva vocês com Seu poder, para que suas flechas possam ir longe e rápido. Deixem que o seu curvar-se na mão do arqueiro seja pela alegria: Pois mesmo enquanto ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é firme.” Kalil Gibran

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